Por Julia Viegas
Bartleby, o escrituário foi escrito por Herman Melville (esse mesmo, o autor de Moby Dick) e lançado em 1853. De lá para cá, pouca coisa mudou no sistema burocrático. Quanto à existência, nem se fala. Diz-se muito. Para fazer parte do sistema, aceitar ordens por vezes até mesmo incompreenssíveis. Vender e comprar, pegue e pague. Organizar papéis, reescrever, copiar, verificar.
Chefe e patrão se deparam com dois seres humanos, eles mesmos, em lados opostos e sentimentos bem parecidos. O patrão se depara com um empregado que o faz repensar toda a sua forma de ver o mundo, a vida e até a si mesmo.O texto é triste. Não vou dizer que não. Tem a máxima "A alegria esconde a probreza". Mas, a forma como é contado faz toda a diferença. Não é do fracasso que se fala, é do triunfo. A CIADRAMÁTICADECOMÉDIA torna engraçado e belo. E faz pensar, pois há que se passar conteúdo sempre. Questiona o sistema de trabalho, a necessidade de liberdade, a vontade e a potência estrondosa da não-ação, que já venceu guerras, já fez muita paz. No texto original, a recusa é ainda mais polida: "I would prefer not to". E "Assim, se resume a plena liberdade do personagem que se recusa a continuar participando do sistema de produção-alienante-grassroots"
Fica na Casa de Cultura Laura Alvim (RJ) só hoje (26/7) e amanhã (27/7), às 21h, R$20. Temporada curta, talvez pelas críticas negativas recebida da toda-poderosa Barbara Heliodora. Ou por qualquer outro motivo que eu desconheço, pois acredito que uma peça assim deveria ficar mais tempo em cartaz e também ser apresentada nos finais de semana.
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Para os que irão, vale a pena reparar na expressão corporal dos atores. Principalmente daquele que faz o papel do patrão. No início, um chefe, dono de si, corpo ereto, voz possante. Depois, no decorrer de sua relação com Bartleby, seu corpo vai se curvando, como se ele fosse carregando muito peso nas costas. O peso insuportável da gravidade do ser. Humano dentro do sistema-alienante-chão de fábrica.