30 de novembro de 2011

Leite e Ferro: Só as mães são felizes?



Por Julia Viegas
O documentário brasileiro Leite e Ferro conta histórias de mães presidiárias. Ou melhor, elas contam. E são tão boas, falam com tanta desenvoltura, além de terem histórias ótimas e serem personalidades muito interessantes, que o documentário não deixa nada a desejar aos filmes de ficção.  A protagonista é Daluana, presa por tráfico de drogas e mãe de Levi Pablo. Ela narra alguns fatos de sua vida de forma leve e até divertida. Não é mulher de se queixar. Pelo contrário, tem consciência e sabedoria. Como muitas outras presas, Daluana converteu-se à religião evangélica. Mas, isso não a torna uma alienada. Jesus lhe dá força e isso é belo. As crianças são lindas e o amor de mãe parece salvá-las. São mulheres que vivem uma realidade muito peculiar. Amamentam e recebem ferro, que, por sua vez, está contido no leite. Elas vivem a expectativa aflita de serem separadas de seus filhos. Pois, as crianças só ficam com elas por quatro meses. Outras "personagens" são muito interessantes, como a Jaqueline, por exemplo, que afirma ter sido melhor para ela estar presa, pois "Aqui eu posso cuidar da minha filha. Se eu tivesse do lado de fora eu ia dar ela para alguma pessoa e voltar àquela vida que eu levava (ela era viciada em drogas). Minha filha ia ficar na mão dos outros". Daluana também faz reflexões inteligentes como, no final do filme, em uma cena que mostra o ambiente externo da prisão, onde as crianças tomam banho de sol. Ela diz: "Será que ele (seu filho) entende onde ele está? Não, ele é muito pequeno. Mas, sei lá, dá uma impressão ruim, não é?". E a câmera mostra as grades. Fato que chama a atenção é que a maioria delas tem outros filhos. Uma das detentas tem dez. Outra, portadora do vírus HIV (amanhã é Dia Internacional de Luta contra a AIDS!) já está com seu terceiro filho e diz que, apesar de desejar muito, foi muito difícil engravidar do terceiro, mas ela conseguiu. Para ela foi uma vitória. É realmente outra realidade. Mulheres grávidas nas ruas apanhando de policiais, sendo presas em plena gestação, passando por situações humilhantes, desconfortáveis e de risco de morte, tanto para si quanto para os bebês. Certamente a maternidade não as faz de todo felizes. Porém, lhes é tão natural que assombra. Importante conhecer outros mundos. 

27 de novembro de 2011

MPB de raiz

Por Julia Viegas

Muito se fala de samba de raiz, pagode, forró e outros ritimos. Mas o que é MPB? Tudo isso? Nada disso? Ontem fui ao Theatro Municipal e vi Cristina Ortiz tocar Heitor Villa-Lobos. Essa elegante dama toca piano como poucos e tudo de cabeça, em nenhum momento leu partituras. Fiquei impressionada. E emocionada também. De ignorante, eu não conhecia muito a obra de Villa-Lobos. Cristina Ortiz me apresentou muito bem. É isso que Villa-Lobos fazia: é mais do que música clássica. Vi e ouvi as raízes da Música Popular Brasileira. Senti-me em casa e ainda mais patriota. Ali, na minha frente estava a raiz de tudo, com meus olhos passeando pelas pinturas na parede do teatro, no teto... MPB de (e na) raiz. Obrigada Cristina!


21 de novembro de 2011

Cecília Meireles e García Lorca

Por Pllural

Amanhã tem Cecília Meireles e Frederico García Lorca na biblioteca José Garcia Neto (Botafogo). A palestra faz parte do ciclo Café Literário, do Instituto Cervantes. O palestrante é o professor Claudio Castro Filho, do Instituto de Artes da UERJ. 
Inconfidências Estéticas: As Poesias de Frederico García Lorca e Cecília Meireles
Local: Rua Visconde de Ouro Preto, 62, Boatafogo
Horário: 18h 

18 de novembro de 2011

Greg House: cordeiro em pele de lobo

Por Julia Viegas

Ele é um personagem, um anti-herói. O interessante é que ele diz coisas que não "podem" ser ditas e que, na realidade, resumem o pensamento contemporâneo. É a não hipocrisia. Também é um personagem que sofre muito e isso fala sobre todos nós. Um médico sem Deus, um homem sem amor próprio que levanta a bandeira do egoísmo porque é isso que vemos ao nosso redor. Gregory House é o homem do século XXI. E tem também a superficialidade encontrada no cidadão mediano estadunidense. Além da genialidade que pertence a qualquer coletivo, seja qual for a época. Dual. É o raso-profundo. O arquétipo do príncipe desencantado. O cordeiro em forma de lobo. Eu adoro Gregy House, sua equipe, seu hospital, seus doentes e principalmente as bobagens sinceras que ele diz.
Destaque para Robert Sean Leonard, o artista trágico de Sociedade dos Poetas Mortos, que no seriado faz um médico com inteligência emocional bem apurada; Lisa Edelstein, como a chefe sensível e sentimental Cuddy, o oposto complementar de House e Olivia Wilde (que escolheu seu sobrenome artístico por causa do escritor), a bela, sensível e problemática doutora 13.
Hugh Laurie é Gregory House

7 de novembro de 2011

Reflexões de um médico da alma

Por Julia Viegas

Memórias, Sonhos e ReflexõesMaravilhoso, fantástico, delicioso livro de Carl Gustav Jung, o maior psicólogo e pensador da psicologia que já existiu. Neste livro ele conta suas experiências desde a infância à maturidade. Sua visão de mundo e experimentações. As lições que aprendeu com seus pacientes e com os povos distantes que visitou. Desdobra seus principais conceitos, como Inconsciente Coletivo, Persona, Sombra e Individuação. Ênfase para a primeira parte do livro, quando ele relata a sua infância. Saboroso, educativo e inédito. A identificação é imediata. Realismo fantástico. Extraordinária mente de um homem que tinha tudo para ser simplório, pois interiorano. Mas, complexo, posto que antena para o Universo. Agradeço a Jung por ter existido e aberto essa porta para a compreensão do humano. "Médico da alma", foi assim que ele se autodenominou, ao buscar as raízes da palavra psiquiatra, de Psiquiatria, área da medicina na qual se especializou.
Doutor Carl Jung na maturidade

 Jung cortando lenha: um homem campesino, 
ele adorava tarefas simplórias e manuais