17 de agosto de 2011

Rupturas, a inocência Green foi roubada por Valverde

Por Julia Viegas

Aulas de mergulho. Salto do mais alto degrau do trampolim. Perfeito, mergulho impecável. Técnica nota 10. Estava determinado o padrão. O lugar é lindo, uma bucólica ilha na Inglaterra. Só de ver o filme já sentimos o cheiro da natureza. Temos paz, beleza, fantasia e padrão. Quando... uma espanholinha chega quebrando as regras. E os saltos tornam-se livres. Cambalhotas, voos qual golfinhos, o mergulho não era mais perfeito. Tornou-se belo (como tudo o que é imperfeito). Sem mais restrições: é ir além, atirar-se. Mergulho metafórico.
O que uma forasteira culta, livre pensadora e extremamente jovem pode representar à provinciana e pacata Stanley Island, onde jaz o antigo internato de St. Mathilda? Resposta: perigo. E as revelações que uma pessoa “a mais” pode trazer para um grupo de meninas e professora que vivem em regime de internato. Presas às grades daquele grande castelo que é a escola. Uma pessoa diferente é capaz de fazer as outras: depararem-se consigo mesmas e questionarem quem elas são. O ser na realidade, por trás das aparências. Ciumentas, as meninas? Carentes, ferozes, egoístas? Mentirosa, manipuladora, vil? Quem somos nós para julgar pessoas que vivem trancadas dentro de si mesmas e de suas próprias imaginações? São, apenas, pessoas trancadas.
Aplausos para a cena em que a professora sai do colégio para ir ao mercado comprar pães. Só uma excelente atriz saberia interpretar com tanta veracidade uma crise de pânico. Afetada, histérica, se debateram os críticos na época, acusando a atriz de exagerar na dose. Defendo-a. Aplausos e muito mais à Eva Green, Juno Temple e María Valverde, que comandam o elenco. E para a fotografia belíssima. O filme foi “traduzido” para português como “Sedução”. Mas, no original chama-se “Cracks”. E na capa tem uma frase interessante: “A inocência não foi perdida. Ela foi roubada”. Para quem gosta de títulos fortes, sugeriria: “Rupturas, a inocência foi roubada”. Só que se a escolha fosse minha, seria apenas “Rupturas”. O que falo não se deve levar em conta, pois sou extremamente anticomercial e esse titulozinho era capaz de não pegar. Tem que falar de inocências, roubos, seduções.
Claro que tenho que citar a frase principal do filme, algo tipo pré- O Segredo:“The most important thing in life is desire”. Será? Acho que o filme pode nos pregar uma peça. Certo é que sofre uma ruptura violenta a partir de certo momento. E o filme torna-se surpreendente.

                                          Eva Green é a protagonista Miss G. 

Obs: Sobre Eva Green, vale muitíssimo a pena ver “Os sonhadores”.   


4 comentários:

  1. Ju, você entende tudo de cinema, sabe identificar o bom ator e a influência do diretor na interpretação e em todos os outros aspectos relativos à obra audiovisual. Seu texto enriqueceu as minhas impressões acerca desse filme.
    O final desse filme é...angustiante.

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  2. Ainda não assisti "Os sonhadores", mas achei a foto da capa do DVD ótima!! Modernismo, colorismo, pluralismo! hehehe

    Deca

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  3. Ahaha lembra um pouco Almodóvar, né? Se bem que o trio está muito branquelo para o diretor espanhol. A capa do Sedução não é bela assim. É só o rosto da Green olhando para frente.
    Gente, estamos falando de Bertolucci (direção) e do excelente Louis Garrel (no colo de Eva). E outra coisa, para quem achar o Sedução sinistro, aviso: Os Sonhadores é soco no estômago! Haja fôlego para sonhar assim. Buenas noches.

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  4. Your text is beautiful, very sensitive. I agree with you and really like Eva's performance from head to toe. She's such a gorgeous talented actress. Kisses, Samantha.

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