30 de junho de 2011

Cisne Negro: beleza, som e fúria

Por Julia Viegas



Mergulho na mente por meio do corpo. O duplo feminino, yng branco, yang negro. A luz e a sombra, pintura. A dupla gêmea, a mulher boa e a “má”. Ou, a virginal e a sedutora. Entrecruzando em rodopios vertiginosos de uma música extremamente… Linda!

O Cisne Negro é forte demais, tão intenso, potente, agudo, que muitas pessoas saem do cinema simplesmente sem saber explicar do que se trata o filme. Ouvi muita gente dizer simplesmente assim: “É bonito”. E essa é uma conclusão aparentemente superficial. Só que, não. O filme É isso: bonito.

Mas, bonito por quê? Tem um motivo. Nada é bonito, gostoso, leve, pesado, pancada, etéreo, à toa. O filme é de uma beleza extraordinária porque “fala” direto com o nosso inconsciente, com nossas imagens coletivas. O Cisne Negro atua direto no inconsciente de quem o assiste. Penso que a arte é mesmo isso, algo que atue dentro de nós, que nos faça desenvolver alguma transformação. Saí transformada da sala de cinema e já falei várias vezes sobre as personagens dele com a minha analista, que é junguiana – o que, aliás, eu acho que o filme é também.

Pois bem, é belo. Mas, não trata da beleza em si. Esse não é o tema. A trama é sobre/de nós, mulheres. Achei o filme extremamente feminino. E isso no sentido mais amplo do mundo. Pois é sabido que todos têm seu lado feminino.
O Cisne, ou melhor, os cines, me encantaram profundamente. Primeiro, foi como num sonho de menina- bailarina. Aquelas cenas iniciais: ela sonhando que dançava com o monstro super sexy; ela se esforçando para dar o melhor de si nos ensaios; seu corpo se adaptando aos movimentos; os estalar de ossos, que algumas vezes faz os nossos próprios doerem; os barulhinhos de asas batendo e a música do Tchaikovski “pura” ou remixada, que não há palavras para descrever tamanha beleza. Só há som! E, o belo príncipe, Leroy, é claro.

Depois, o escuro, quando Nina deixa aflorar, sob intensa pressão externa/interna, a sua sombra, a Cisne Negro – e aí entra um conceito junguiano, de que devemos nos reconciliar com a nossa sombra, pois só assim, teremos a nossa totalidade e quem sabe a felicidade viria disso, de ser inteiro. No momento que Nina liberta esse “animal feroz”, e aí eu me lembro do título “Mulheres que correm com os lobos”, o que era sonho de menina-bailarina, vira pesadelo.

Um sonho ruim tão intenso quanto o sonho bom. E o lado negro, o The Dark Side of the Moon psicodélico. O Lou Red nos convidando para dar uma passeada no Wild Side: “Hey babe, hey sugar, take a walk on the wild side”…
Essa força oculta; estranha a nós, parece nos prender ainda mais. São os tais desejos cruéis, tão bons e tão reprimidos cotidianamente.



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